E o Cristo chorou…

Queridos leitores, hoje venho a este blog fazer uma postagem diferente do que costumo escrever aqui. Venho compartilhar com vocês desta vez algo que não é nada engraçado, porém reflexivo: as enchentes no Rio de Janeiro. Deixo aqui com vocês meu texto de título: “A culpa é de quem?”

Boa leitura e boa reflexão!

A culpa é de quem?

Quando fui à Teresópolis, tinha apenas 17 anos, pouca instrução política e muitas dúvidas e inquietações, próprias dessa fase. Lembro-me que conheci um lugar em que as casas se pareciam com casas de veraneio na Itália, por exemplo: todas com estilo arquitetônico do país. Pelo menos assim eu comparava de acordo com o que via na televisão.

Fiquei deslumbrada, pois nunca fui acostumada com o calor de São Luis e aquele frio e a beleza européia da cidade me deixou fascinada e com vontade de ali morar. Porém, não havia conhecido o lado humilde da cidade e sim o lado rico e desenvolvido, bem cuidado e na minha cegueira apolítica e adolescente nem havia parado para pensar que esse lado pobre existisse. Parecia um lugar perfeito para mim.

Contudo, anos depois da minha breve visita ao local, me deparo com cenas chocantes das enchentes que destruíram esse lado subdesenvolvido de Teresópolis e outras cidades vizinhas a ela. Tais cenas me chocaram, pois lembrei de como conheci o local e batendo a mão na testa pensei “por que me chocar? Nenhum lugar é perfeito, você foi tola em pensar assim”. Não, nenhum lugar é perfeito mesmo.

Todo lugar tem violência, falhas na infra-estrutura e muitas pessoas que passam necessidade. Mas, creio que me choquei, porque nesta época não tinha muito consciência de realidade e talvez fosse até mais feliz assim. Como disse uma vez Cazuza “os ignorantes são felizes”. Porque se dá conta da realidade, é se dar conta de que existem não só coisas boas, mas também as ruins e muito ruins mesmo. É se dar conta do desespero humano e da luta constante pela sobrevivência.

Dói às vezes se deparar com isso. Dói ver o sofrimento de quem lutou anos para conseguir comprar uma televisão, por exemplo. Dói ainda mais ver pessoas que perderam entes queridos. Porém, dói muito mais ver que se põe a culpa em um elemento que cai dos céus para nos fazer bem e não o contrário: a chuva. Esta não tem culpa de nada. Nada mesmo. E para explicar um pouco isto que vos digo, faço minhas as palavras de uma citação (de autor desconhecido no momento) que um amigo e ex-colega de jornalismo, Ronnald Kelps, postou certa fez em uma das redes sociais:

“A tragédia poderia ser menor: Nosso Rio de Janeiro transborda. As forças da natureza geram destruição e morte. Rios de dor. Só essa dor tão pungente tira a invisibilidade dos pobres do nosso Rio, do nosso país. As chuvas no Rio, inevitáveis, poderiam produzir menos óbitos e desabamentos. A responsabilidade é também dos governantes, que, como de hábito, cuidam mais de obras grandiosas, cosméticas, do que de saneamento, habitação segura, dragagem de rios, coleta contínua e seletiva de lixo”.

Completei este pensamento com o seguinte comentário: “eu ainda acho que deveria ser lei prefeito morar nessas áreas com a família, filho de ministro da educação estudar em escola pública, governador tratar a saúde pelo SUS e por ai vai”. Sim, parece um absurdo isso que eu comentei, mas mais absurdo ainda é alguém chegar a um cargo no qual ele deveria favorecer aquela função na área pública. Alguém conhece filho de secretário de educação que estuda em escola pública? Eu não e duvido muito que exista. Pensem nisso.

Pois bem, creio que botar a culpa na chuva e em demais fatores que não em si mesmo é mal do ser humano. Não conseguimos conviver com a culpa e muitos preferem ignorar a prevenção do que poderia ser evitado. A falta de prevenção não é “privilégio” do Rio de Janeiro, meu Maranhão sofreu muito com isso tempos atrás e até hoje lembro com dor. Enfim, encerro esse texto assistindo muito emocionada às incessantes e inúmeras reportagens sobre esta tragédia. E o que me dói mais é saber que isto não termina aqui: pode acontecer outra vez , em qualquer outro lugar do nosso Brasil e eu posso estar aqui, de novo, compartilhando minha frustração e tristeza com vocês.

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